Comentário ao Evangelho do 3o Domingo da Páscoa (Jo 21,1-19 ou1-14) - 10/04/16
- Diocese de Divinópolis
- 9 de abr. de 2016
- 6 min de leitura

Naquele tempo, 1Jesus apareceu de novo aos discípulos, à beira do mar de Tiberíades. A aparição foi assim:
2estavam juntos Simão Pedro, Tomé, chamado Dídimo, Natanael de Caná da Galileia, os filhos de Zebedeu e outros dois discípulos de Jesus.
3Simão Pedro disse a eles: “Eu vou pescar”. Eles disseram: “Também vamos contigo”. Saíram e entraram na barca, mas não pescaram nada naquela noite.
4Já tinha amanhecido, e Jesus estava de pé na margem. Mas os discípulos não sabiam que era Jesus.
5então Jesus disse: “Moços, tendes alguma coisa para comer?” Responderam: “Não”.
6Jesus disse-lhes: “Lançai a rede à direita da barca, e achareis”. Lançaram pois a rede e não conseguiam puxá-la para fora, por causa da quantidade de peixes.
7Então, o discípulo a quem Jesus amava disse a Pedro: “É o Senhor!” Simão Pedro, ouvindo dizer que era o Senhor, vestiu uma roupa, pois estava nu, e atirou-se ao mar.
8Os outros discípulos vieram com a barca, arrastando a rede com os peixes. Na verdade, não estavam longe da terra, mas somente a cerca de cem metros.
9Logo que pisaram a terra, viram brasas acesas, com peixe em cima, e pão.
10Jesus disse-lhes: “Trazei alguns dos peixes que apanhastes”.
11Então Simão Pedro subiu ao barco e arrastou a rede para a terra. Estava cheia de cento e cinquenta e três grandes peixes; e apesar de tantos peixes, a rede não se rompeu.
12Jesus disse-lhes: “Vinde comer”. Nenhum dos discípulos se atrevia a perguntar quem era ele, pois sabiam que era o Senhor.
13Jesus aproximou-se, tomou o pão e distribuiu-o por eles. E fez a mesma coisa com o peixe.
14Esta foi a terceira vez que Jesus, ressuscitado dos mortos, apareceu aos discípulos.
15Depois de comerem, perguntou a Simão Pedro: “Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes?” Pedro respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo”. Jesus disse: “Apascenta os meus cordeiros”.
16E disse de novo a Pedro: “Simão, filho de João, tu me amas?” Pedro disse: “Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo”. Jesus disse-lhe: “Apascenta as minhas ovelhas”.
17Pela terceira vez, perguntou a Pedro: “Simão, filho de João, tu me amas?” Pedro ficou triste, porque Jesus perguntou três vezes se ele o amava. Respondeu: “Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo”. Jesus disse-lhe: “Apascenta as minhas ovelhas.
18Em verdade, em verdade te digo: quando eras jovem, tu te cingias e ias para onde querias. Quando fores velho, estenderás as mãos e outro te cingirá e te levará para onde não queres ir.
19Jesus disse isso, significando com que morte Pedro iria glorificar a Deus. E acrescentou: “Segue-me”.
— Palavra da Salvação. — Glória a vós, Senhor.
Comentário do Padre Guilherme
Este trecho do Evangelho de João fala de acontecimentos que se deram depois da morte de Jesus. Os discípulos, seguindo o que Ele mesmo havia mandado, tinham voltado para a Galileia (conforme o Evangelho de Mt 28,7). Eles voltaram para sua vida de pescadores.
A passagem tem algumas características interessantes, como a iniciativa de todas as ações que parte sempre de Jesus. Os discípulos não O reconheceram de início. E também dois personagens que tiveram participação mais significativa: Pedro e João.
Pedro é aquele que tem prontidão para o serviço. Teve a iniciativa da pesca, de ir ao encontro do Senhor e, depois, de trazer a rede cheia de peixes até a praia. Ele não hesitou para agir, principalmente quando entendeu, pela fala de João, que era Jesus quem falava com eles.
Sobre o discípulo que Jesus amava, acredita-se que seja João, o autor desse evangelho. A expressão “discípulo que Jesus amava” pode, de início, dar ideia que Jesus pudesse ter preferência por algum discípulo. Entretanto, após uma observação mais atenta ao conjunto desse Evangelho, é possível ver que São João foi o discípulo que mais conseguiu compreender e acolher o amor paterno e divino de Jesus. E alcançou essa compreensão porque se colocou numa atitude de deixar-se ser amado por Jesus. Abriu-se para esse amor, sendo assim muito amado e conseguindo, mais até que os outros discípulos, entender em profundidade os ensinamentos de Jesus. Tanto que foi o primeiro a reconhecer Jesus na aparição desse trecho do evangelho. Em outro trecho, da constatação do túmulo vazio, ao chegar junto de Pedro na entrada do sepulcro, também conseguiu ver primeiro ali os sinais da ressurreição.
Algo que também interessa nesta passagem: Jesus, mesmo feito Senhor Ressuscitado, não perdeu o gosto de servir. Ele prepara o alimento. Quando chegam com os peixes, Ele já está com as brasas preparadas e o pão. Aparece nessa refeição uma forte referência à Eucaristia: com o que ofertamos Jesus nos prepara e dá o alimento. No reino de Deus é assim: o Senhor mesmo se sentará à mesa com os seus.
Se antes eles não conseguiam pescar nada, a partir do convite de Jesus a pesca foi abundante. A palavra do Senhor deu eficácia ao trabalho dos discípulos. É a palavra do Senhor que guia o esforço dos discípulos para alcançar sucesso e produzir muitos frutos. Sem Jesus, com Sua palavra, nossa vida não produz muito, não alcançamos êxito e nem felicidade completa.
Todo esforço de uma comunidade que caminhe sem Jesus Cristo e os Seus ensinamentos é um esforço estéril. Por outro lado, com Jesus, o trabalho é fecundo. A missão da Igreja só rende frutos se for obediente à palavra do Senhor.
Desta primeira parte do Evangelho, pode-se tirar as seguintes ideias:
1ª- O valor de deixar-se ser amado por Deus, através de Jesus Cristo. Imitação do discípulo amado.
2ª- A necessidade de permanecer em prontidão para a missão. Imitação de São Pedro.
3ª- A importância de ouvir a Palavra do Senhor e colocar o que ela nos ensina em prática.
A escuta da Palavra e o esforço para cumprir o que Jesus ensina nos leva a viver uma verdadeira comunhão, uma Eucaristia: colocamos o fruto do nosso trabalho e esforços para que Jesus possa abençoar e preparar a refeição que nos une e faz de nós um com Ele.
E algumas questões para a vida prática:
- Conseguimos reconhecer na vida a presença de Jesus ressuscitado?
- Estamos de prontidão para o chamado de Jesus?
- Temos generosidade de colocar nossos dons, habilidades e o fruto de nosso trabalho à disposição para a obra de Deus?
Jesus repetiu a pergunta a Pedro três vezes. Essa repetição foi um caminho para guiar o apóstolo que sempre deixava suas ações serem comandadas pelas emoções. Também parece ser possibilidade de reparação da tripla negação de Pedro, quando Jesus havia sido preso.
Amar Jesus significa tomar parte em Seu projeto e Sua missão. A missão dos apóstolos (e também a de todos os que seguem Jesus) só tem sentido verdadeiro se for uma missão ligada à missão de Jesus. Somente um amor a Jesus sem reservas torna possível o cumprimento dessa tarefa de seguimento. Esse amor é a alma da missão.
Jesus confiou a Pedro uma tarefa pastoral na Igreja. A pergunta repetida três vezes foi também oportunidade para Pedro tomar consciência e confessar seu arrependimento. À medida que a pergunta vai sendo repetida, pode ser mais meditada e refletida. A confissão e o arrependimento que Jesus deseja precisam acontecer através do amor. O amor é o caminho do arrependimento e do perdão dos pecados.
No Antigo Testamento, a figura do pastor era relacionada a Deus. No Novo Testamento, passa para Jesus. E, neste trecho do Evangelho de João, a figura do pastor é atribuída a Pedro.
Existe forte contraste da fraqueza e da simplicidade de Pedro com a força e a importância de sua tarefa. Ele é a rocha e o pastor da Igreja não por si mesmo, mas somente pela graça de Deus. Toda e qualquer força do ser humano somente vem de Deus.
Jesus convidou Pedro para o pastoreio verdadeiro. O verdadeiro pastor chama suas ovelhas, conduz à pastagem, caminha à sua frente. Diferente do empregado, o verdadeiro pastor defende suas ovelhas e dá sua vida por elas. Pedro passa a ser uma expressão visível de um Cristo invisivelmente presente. É essa a função de Pedro e dos seus sucessores.
O pastor precisa estar pronto para a doação de si ao Senhor. Não mais importa a sua vontade, mas a do Senhor. O seguimento a Jesus é caminho de martírio, de morte para a vida terrena, o egoísmo e o materialismo. Uma morte que busca em Cristo a vida eterna.
Padre Guilherme da Silveira Machado é administrador paroquial na Paróquia de São Sebastião, em Leandro Ferreira. Apresenta os programas Caminhada na Fé, toda sexta-feira, às 14 horas, na Rádio Divinópolis AM 720 e Momento Mariano, aos domingos, ao meio-dia, na Rádio Santana FM 96,9.
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